29 outubro 2007

o amor é o amor

... antecipo desculpas aos amigos pela demora nas postagens. Intenso número de atividades.
... Gostaria de comentar algo com vcs, que vi essa semana, e que me emocionou muitissimo.
Semana passada foi preso mais um dos "meninos dos DVDs". Quem me conhece sabe o quanto eu respeito esses trabalhadores, pela honestidade com que desempenham uma atividade ilícita legalmente, mas lícita socialmente. Pois bem, o que me impressionou com este caso foi o amor expressado pela esposa do cidadão durante os 04 dias de sua prisão, e o amor demonstrado por ambos (enquanto familia) pelos outros encarcerados após sua liberação. Explico.
Durante toda a semana o cidadão manteve-se encarcerado pela dificuldade do Ministério Público e do juiz da vara em perceberem que o crime tipificado pelo art. 184, CPB não causa mais comoção social, tem baixo grau de reprovabilidade e não fere a ordem pública.
Encarceraram meu cliente por quatro dias, e iam-no manter encarcerado por mais 30 sob o teratológico fundamento da "garantia da ordem pública". Obrigaram-me a obter habeas corpus liberatório no TJ.
É comum que as familias dos presos, após os primeiros dias de prisão, "esfriem" em relação aos presos, voltando às suas vidas individuais e aguardando a liberação para depois. É comum, é muito comum. Nesse caso, a esposa mencionada esteve presente a cada segundo, e mostrou um amor pelo seu marido, que, confesso, me contagiou. Como eu gostaria, honestamente, de ser amado com tanta força, com tanta dedicação, com tanta abnegação. A cada minuto, ela renovava o amor pelo marido, e dizia isso aos quatro ventos, que lá estava lutando pelo homem que ama. Trazia roupas, comida, e mais, trazia esperança. Renovava até mesmo em mim a esperança no meu trabalho. Dizia "tenha calma, Dr. confio no seu trabalho, o sr. vai conseguir..." Putz, isso é lindo. Isso é vida. Ainda existe gente assim.
Solto o cliente, finalmente, vi um casal idêntico. O marido saiu da delegacia, não comentando sua felicidade em sair, mas comentando como poderia ajudar os outros presos, que lá vivem (sentenças de anos) em condições sub-sub-sub humanas. Comentava o marido que adquiria uma toalha nova para os presos, uma divisória para o banheiro, trocaria a lâmpada da cela (queimada), e traria vassouras e material de limpeza para a delegacia. Comentou - inclusive - (eu nem sabia disso) que nem os guardas tem vassouras para limpeza da delegacia.
Compreendem meu espanto? eles se importam com os outros. Mais que o juiz, mais que a promotora. Mais que nós. Talvez alguns tenham dificuldade em compreender esse meu post; entendo isso, tenho eu mesmo dificulade de entender as emoções que extravassam em mim agora mesmo. Mas senti muito AMOR nesses dois, aquele amor incondicional, incontido, responsável e politicamente correto. E isso me contagiou. Muito. "o amor é o calor que aquece a alma".