O indivíduo Freudiano é dotado de dois instintos: Eros ou instinto de vida e Tânatus ou instinto de morte. A evolução da civilização humana pode ser descrita como a luta de Eros e Tânatus, Vida e Morte; é a luta da espécie humana pela vida. Sentir, Pensar, Escrever, diferença entre a vida e a morte.
30 outubro 2007
... esses tipos de serventuários.
... recebi agora curiosa ligação da 3a vara de família. Dizia o interlocutor: "dr. aqui é fulano, da 3a vara. Há uma dúvida da juiza sobre um valor dos autos, e ela quer as partes aqui, amanhã, 14hs, com seus advogados, para esclarecer essa dúvida." - xi, esse horário não dá, tenho reunião. Estarei livre as 17hs. - dr. a juiza determinou esse horário e tem que ser esse horário (dizendo isso com um sorriso no rosto, pelo tom da voz). - é que realmente esse horário não dá. Adoraria ir, mas tenho reunião marcada com antecedência. - sei, Dr., mas é que a juiza está dizendo que é pra vir, e só pode atender nesse horário."
Ao que não aguentei mais a subserviência do cara, e a pressão que estava fazendo para provar o poder do juiz sobre o advogado, e retruquei: "- amigo, a juiza manda em vc, não em mim. Dá ordens a vc, mas não a mim e aos demais advogados. Faz assim, diga que ela despache nos autos, envie o processo para a secretaria para confeccionar a publicação, enviar para o D.O.E, que eu aguardo a publicação quinta-feira, e compareço a esse encontro para data futura."
Silêncio do outro lado da linha, seguido de algum tipo de gemido guturral, não identificado. "- Dr. ok, pode ser então mais para o fim da tarde".
... antecipo desculpas aos amigos pela demora nas postagens. Intenso número de atividades. ... Gostaria de comentar algo com vcs, que vi essa semana, e que me emocionou muitissimo. Semana passada foi preso mais um dos "meninos dos DVDs". Quem me conhece sabe o quanto eu respeito esses trabalhadores, pela honestidade com que desempenham uma atividade ilícita legalmente, mas lícita socialmente. Pois bem, o que me impressionou com este caso foi o amor expressado pela esposa do cidadão durante os 04 dias de sua prisão, e o amor demonstrado por ambos (enquanto familia) pelos outros encarcerados após sua liberação. Explico. Durante toda a semana o cidadão manteve-se encarcerado pela dificuldade do Ministério Público e do juiz da vara em perceberem que o crime tipificado pelo art. 184, CPB não causa mais comoção social, tem baixo grau de reprovabilidade e não fere a ordem pública. Encarceraram meu cliente por quatro dias, e iam-no manter encarcerado por mais 30 sob o teratológico fundamento da "garantia da ordem pública". Obrigaram-me a obter habeas corpus liberatório no TJ. É comum que as familias dos presos, após os primeiros dias de prisão, "esfriem" em relação aos presos, voltando às suas vidas individuais e aguardando a liberação para depois. É comum, é muito comum. Nesse caso, a esposa mencionada esteve presente a cada segundo, e mostrou um amor pelo seu marido, que, confesso, me contagiou. Como eu gostaria, honestamente, de ser amado com tanta força, com tanta dedicação, com tanta abnegação. A cada minuto, ela renovava o amor pelo marido, e dizia isso aos quatro ventos, que lá estava lutando pelo homem que ama. Trazia roupas, comida, e mais, trazia esperança. Renovava até mesmo em mim a esperança no meu trabalho. Dizia "tenha calma, Dr. confio no seu trabalho, o sr. vai conseguir..." Putz, isso é lindo. Isso é vida. Ainda existe gente assim. Solto o cliente, finalmente, vi um casal idêntico. O marido saiu da delegacia, não comentando sua felicidade em sair, mas comentando como poderia ajudar os outros presos, que lá vivem (sentenças de anos) em condições sub-sub-sub humanas. Comentava o marido que adquiria uma toalha nova para os presos, uma divisória para o banheiro, trocaria a lâmpada da cela (queimada), e traria vassouras e material de limpeza para a delegacia. Comentou - inclusive - (eu nem sabia disso) que nem os guardas tem vassouras para limpeza da delegacia. Compreendem meu espanto? eles se importam com os outros. Mais que o juiz, mais que a promotora. Mais que nós. Talvez alguns tenham dificuldade em compreender esse meu post; entendo isso, tenho eu mesmo dificulade de entender as emoções que extravassam em mim agora mesmo. Mas senti muito AMOR nesses dois, aquele amor incondicional, incontido, responsável e politicamente correto. E isso me contagiou. Muito. "o amor é o calor que aquece a alma".
... amigos, estou indo a Gramado/RS, por uns dias. Lá há um restaurante (http://www.belleduvalais.com.br/#conteudo), ao qual pretendo ir. Insisto (muito) para que acessem o site dele, e escutem a música de fundo (assim vão entender porque desejo também ir lá). A música (não poderia ser diferente) é de Diana Krall, e a letra pode ser encontrada aqui. Diana é um marco do jazz (curto muitissimo ela e jazz), canta e toca piano como um canário entoa a abertura de uma manhã, com a elegância que só a ela é peculiar.
"Porque em noites como esta eu a tive em meus braços,
"minha alma se exaspera por havê-la perdido.
"Mesmo sendo esta a última dor que ela me cause
e estes versos os últimos que eu lhe tenha escrito." (Neruda).